Líderes de bancada avaliam fatores que culminaram no atual cenário e garantem trabalho propositivo do Legislativo
Se política fosse uma partida de futebol, o cenário em Bagé poderia ser classificado como uma “virada”. Isto no que diz respeito à Câmara. O motivo é simples. Após as eleições de 2012, o governo tinha domínio das ações junto ao Legislativo, com 10 vereadores contra sete. Agora mudou. Com as saídas de PMDB e PRB da aliança com o Executivo, este ano, o placar é de nove a oito, mas dessa vez, a favor da oposição.
Quem não acompanha muito o meio político pode ficar sem entender nada. Mas quem convive diariamente neste âmbito sabe o que representa ser maioria no Legislativo. Se por um lado o Executivo tem o comando das ações na prática, é na Câmara que é “regido” o andamento dos trabalhos. Afinal é ali que projetos são aprovados, utilização de créditos adicionais autorizadas e uma série de outras tramitações. Há quem diga que quem comanda a Câmara, comanda uma cidade. Mas isto é um ponto de vista.
Na atualidade, o Partido dos Trabalhadores conta com sete cadeiras e tem, ainda, na base aliada uma vaga por meio do Partido da República (PR). Já a oposição é composta por cinco vereadores do PTB, dois do PP, e agora também por Uílson Morais (PMDB) e Edimar Fagundes (PRB) – que antes integraram a base governista.
Em uma síntese rápida, pode-se resumir que a oposição, agora, dita o que é aprovado ou não na Câmara. E não apenas por ser maioria em plenário. A mesa diretora é presidida por Morais, e tem Fagundes como vice. Ou seja, mantém um domínio amplo no Legislativo.
Articulação e aproximação
Para o líder da bancada do PTB, vereador Divaldo Lara, o processo para que a oposição assumisse o comando da Câmara não é recente. Em entrevista à coluna, ele disse entender que foi algo bem anterior, ainda da legislatura passada. “O trabalho começou ainda em 2009, quando éramos apenas três: eu, a Sônia Leite e o Gustavo Morais. Não nos conhecíamos, éramos de partidos diferentes e, por isso, estávamos desarticulados”, argumenta. Contudo, diz ele, o cenário foi se modificando aos poucos. “Na campanha de 2012 conseguimos trazer a Adriana (Lara) para se candidatar à prefeitura e com o apoio da Jussara Carpes (ambas eram, até então, do PT). Isso deu uma linha de oposição”, defendeu.
Conforme o petebista, a campanha de 2012 foi o momento de construção de uma oposição forte. Os argumentos apontados por ele são os próprios números. “As vagas para vereadores passaram de 11 para 17. E houve um crescimento do PTB e do PP. Nós saltamos de um para cinco. Ali foi uma vitória. Tivemos um crescimento de 500%, uma das maiores evoluções já vistas”, salientou ao acrescentar que o PP, também de oposição, aumentou sua representação para duas cadeiras. Ainda neste ponto, ele avalia que o PT, por outro lado, não “foi bem”. “Eles já tinham sete vereadores e, mesmo aumentando as vagas, continuaram com sete. Proporcionalmente diminuíram. Os partidos da base também não cresceram”, argumenta.
Antenor Teixeira, líder da bancada do PP, evidencia que, de fato, o pleito eleitoral passado aproximou a sigla do PTB. “Conseguimos colocar o Aluízio (Tavares) como vice da Adriana na campanha. Isso ocorreu porque começamos a conversar com uma visão para o futuro”, conta.
Lara argumenta que, passado o pleito, iniciou-se o processo de aliança da oposição – ainda em minoria naquele momento. “A grande questão foi o entendimento do PP e o PTB. A Sônia foi fundamental nisto. Nos unimos e, de forma madura, sintonizamos as relações, gerando discursos uniformes. Passamos a adotar uma política de proposição, deixando aquela política de oposição de ser contra tudo e contra todos de lado. Tenho certeza que essa foi a chave para conquistar os demais partidos, no caso do PMDB e o PRB”, detalha.
Para o petebista, o Executivo, até então, exercia um controle no Legislativo. “E não é algo somente dessa gestão, do atual prefeito. É algo que vem de longa data”, comenta ao dizer lembrar apenas de uma ocasião, anterior, onde a oposição foi maioria na Câmara de Bagé – mais especificamente no governo do prefeito Azambuja. “Isso traz uma nova realidade política local, de romper com a influência do Executivo. Entendo que devolvemos ao legislativo o cerne da sua existência: a independência para legislar e fiscalizar”, diz. Sobre a questão, ele é direto ao avaliar que, até então, a Câmara de constituía em “um puxadinho da prefeitura”. E completa: “tomara que a oposição siga sendo maioria por muitos anos, seja quem for que estiver no Executivo”.
Foco
Com a maioria efetivada, este ano, a oposição passou a comandar as ações. Lara, porém, garante que os trabalhos não serão voltados a trancar a pauta, nem mesmo os projetos do Executivo. “Tanto é que já aprovamos dois financiamentos. Nossa linha é fiscalizar, apontar soluções e manter a coerência”, atesta.
Teixeira também é enfático quanto a esta questão. “Entendo que não podemos engessar a prefeitura. Em 98 e 99, quando o meu partido era governo e o PT tinha maioria na Câmara, inviabilizaram nossa gestão. Por isso, entendo bem o que isso significa. Penso que a oposição ser maioria é benéfico, mas é importante que haja governabilidade. Nosso papel será cobrar transparência”, diz.
Reflexos
Mesmo que o atual cenário seja novo – cerca de dois meses –, Divaldo Lara aponta que muitos resultados da atuação da oposição já podem ser constatados. “Desde ano passado, o governo terminou e revisou vários convênios apontados como irregulares. O município chegou, acredite, a ter 48 convênios. Conseguimos fazer com que muitos fosse extintos e penso que isso trouxe um ganho na relação do Executivo com a sociedade, por não haver mais terceirizações”, argumenta.
Outro item evidenciado por ele, como reflexo, é a revisão da folha de pagamento. “Sempre foi uma caixa preta da prefeitura. Mas hoje está acessível”, destaca.
A contribuição de melhoria na pavimentação da Zona Leste, anunciada que não iria mais ser cobrada na semana passada, também é citada pelo petebista como uma conquista da bancada de oposição. “O governo fez um estudo, quatro audiências e mandou o projeto porque queria cobrar. Conseguimos, com uma ação popular, reverter a decisão”, pondera.
Avaliação
Se o discurso entre PTB e PP já ocorre há algum tempo, a entrada do PMDB e PRB poderia ser considerada nova demais. Apesar disso, o líder da bancada petebista afirma que a relação já é consistente. “Vejo indicadores para construir uma proposta na Câmara, de renovação”, cita. Conforme ele, “o Uílson tem se demonstrado responsável com o uso do dinheiro público e o Edimar está sendo contundente e coerente em suas falas e ações”.
Divaldo, aliás, diz entender que estes “dois partidos (PMDB e PRB) caminham para um crescimento político e partidário”.
BOX
BANCADAS
Situação
Márcia Torres, Omar Ghani, Rafael Fuca, Jandir Paim, Vovô Jaburu, Lelinho Lopes, Caio Ferreira (PT) e
Claudia Souza (PR).
Oposição
Geraldo Saliba, Bocão Bogado, Esquerda Carneiro, Divaldo Lara e Carlinhos do Papelão (PTB)
Sônia Leite e Antenor Teixeira (PP), Uílson Morais (PMDB) e Edimar Fagundes (PRB).
Se política fosse uma partida de futebol, o cenário em Bagé poderia ser classificado como uma “virada”. Isto no que diz respeito à Câmara. O motivo é simples. Após as eleições de 2012, o governo tinha domínio das ações junto ao Legislativo, com 10 vereadores contra sete. Agora mudou. Com as saídas de PMDB e PRB da aliança com o Executivo, este ano, o placar é de nove a oito, mas dessa vez, a favor da oposição.
Quem não acompanha muito o meio político pode ficar sem entender nada. Mas quem convive diariamente neste âmbito sabe o que representa ser maioria no Legislativo. Se por um lado o Executivo tem o comando das ações na prática, é na Câmara que é “regido” o andamento dos trabalhos. Afinal é ali que projetos são aprovados, utilização de créditos adicionais autorizadas e uma série de outras tramitações. Há quem diga que quem comanda a Câmara, comanda uma cidade. Mas isto é um ponto de vista.
Na atualidade, o Partido dos Trabalhadores conta com sete cadeiras e tem, ainda, na base aliada uma vaga por meio do Partido da República (PR). Já a oposição é composta por cinco vereadores do PTB, dois do PP, e agora também por Uílson Morais (PMDB) e Edimar Fagundes (PRB) – que antes integraram a base governista.
Em uma síntese rápida, pode-se resumir que a oposição, agora, dita o que é aprovado ou não na Câmara. E não apenas por ser maioria em plenário. A mesa diretora é presidida por Morais, e tem Fagundes como vice. Ou seja, mantém um domínio amplo no Legislativo.
Articulação e aproximação
Para o líder da bancada do PTB, vereador Divaldo Lara, o processo para que a oposição assumisse o comando da Câmara não é recente. Em entrevista à coluna, ele disse entender que foi algo bem anterior, ainda da legislatura passada. “O trabalho começou ainda em 2009, quando éramos apenas três: eu, a Sônia Leite e o Gustavo Morais. Não nos conhecíamos, éramos de partidos diferentes e, por isso, estávamos desarticulados”, argumenta. Contudo, diz ele, o cenário foi se modificando aos poucos. “Na campanha de 2012 conseguimos trazer a Adriana (Lara) para se candidatar à prefeitura e com o apoio da Jussara Carpes (ambas eram, até então, do PT). Isso deu uma linha de oposição”, defendeu.
Conforme o petebista, a campanha de 2012 foi o momento de construção de uma oposição forte. Os argumentos apontados por ele são os próprios números. “As vagas para vereadores passaram de 11 para 17. E houve um crescimento do PTB e do PP. Nós saltamos de um para cinco. Ali foi uma vitória. Tivemos um crescimento de 500%, uma das maiores evoluções já vistas”, salientou ao acrescentar que o PP, também de oposição, aumentou sua representação para duas cadeiras. Ainda neste ponto, ele avalia que o PT, por outro lado, não “foi bem”. “Eles já tinham sete vereadores e, mesmo aumentando as vagas, continuaram com sete. Proporcionalmente diminuíram. Os partidos da base também não cresceram”, argumenta.
Antenor Teixeira, líder da bancada do PP, evidencia que, de fato, o pleito eleitoral passado aproximou a sigla do PTB. “Conseguimos colocar o Aluízio (Tavares) como vice da Adriana na campanha. Isso ocorreu porque começamos a conversar com uma visão para o futuro”, conta.
Lara argumenta que, passado o pleito, iniciou-se o processo de aliança da oposição – ainda em minoria naquele momento. “A grande questão foi o entendimento do PP e o PTB. A Sônia foi fundamental nisto. Nos unimos e, de forma madura, sintonizamos as relações, gerando discursos uniformes. Passamos a adotar uma política de proposição, deixando aquela política de oposição de ser contra tudo e contra todos de lado. Tenho certeza que essa foi a chave para conquistar os demais partidos, no caso do PMDB e o PRB”, detalha.
Para o petebista, o Executivo, até então, exercia um controle no Legislativo. “E não é algo somente dessa gestão, do atual prefeito. É algo que vem de longa data”, comenta ao dizer lembrar apenas de uma ocasião, anterior, onde a oposição foi maioria na Câmara de Bagé – mais especificamente no governo do prefeito Azambuja. “Isso traz uma nova realidade política local, de romper com a influência do Executivo. Entendo que devolvemos ao legislativo o cerne da sua existência: a independência para legislar e fiscalizar”, diz. Sobre a questão, ele é direto ao avaliar que, até então, a Câmara de constituía em “um puxadinho da prefeitura”. E completa: “tomara que a oposição siga sendo maioria por muitos anos, seja quem for que estiver no Executivo”.
Foco
Com a maioria efetivada, este ano, a oposição passou a comandar as ações. Lara, porém, garante que os trabalhos não serão voltados a trancar a pauta, nem mesmo os projetos do Executivo. “Tanto é que já aprovamos dois financiamentos. Nossa linha é fiscalizar, apontar soluções e manter a coerência”, atesta.
Teixeira também é enfático quanto a esta questão. “Entendo que não podemos engessar a prefeitura. Em 98 e 99, quando o meu partido era governo e o PT tinha maioria na Câmara, inviabilizaram nossa gestão. Por isso, entendo bem o que isso significa. Penso que a oposição ser maioria é benéfico, mas é importante que haja governabilidade. Nosso papel será cobrar transparência”, diz.
Reflexos
Mesmo que o atual cenário seja novo – cerca de dois meses –, Divaldo Lara aponta que muitos resultados da atuação da oposição já podem ser constatados. “Desde ano passado, o governo terminou e revisou vários convênios apontados como irregulares. O município chegou, acredite, a ter 48 convênios. Conseguimos fazer com que muitos fosse extintos e penso que isso trouxe um ganho na relação do Executivo com a sociedade, por não haver mais terceirizações”, argumenta.
Outro item evidenciado por ele, como reflexo, é a revisão da folha de pagamento. “Sempre foi uma caixa preta da prefeitura. Mas hoje está acessível”, destaca.
A contribuição de melhoria na pavimentação da Zona Leste, anunciada que não iria mais ser cobrada na semana passada, também é citada pelo petebista como uma conquista da bancada de oposição. “O governo fez um estudo, quatro audiências e mandou o projeto porque queria cobrar. Conseguimos, com uma ação popular, reverter a decisão”, pondera.
Avaliação
Se o discurso entre PTB e PP já ocorre há algum tempo, a entrada do PMDB e PRB poderia ser considerada nova demais. Apesar disso, o líder da bancada petebista afirma que a relação já é consistente. “Vejo indicadores para construir uma proposta na Câmara, de renovação”, cita. Conforme ele, “o Uílson tem se demonstrado responsável com o uso do dinheiro público e o Edimar está sendo contundente e coerente em suas falas e ações”.
Divaldo, aliás, diz entender que estes “dois partidos (PMDB e PRB) caminham para um crescimento político e partidário”.
BOX
BANCADAS
Situação
Márcia Torres, Omar Ghani, Rafael Fuca, Jandir Paim, Vovô Jaburu, Lelinho Lopes, Caio Ferreira (PT) e
Claudia Souza (PR).
Oposição
Geraldo Saliba, Bocão Bogado, Esquerda Carneiro, Divaldo Lara e Carlinhos do Papelão (PTB)
Sônia Leite e Antenor Teixeira (PP), Uílson Morais (PMDB) e Edimar Fagundes (PRB).
